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O sentimento de pertencimento manifestado pelas tranças
Para a comunidade negra, o penteado é história, legado e tradição
Por Kawany Nascimento

Reprodução: Guilherme Chagas
Entrelaçar os fios dos cabelos a fim de realizar penteados é uma técnica que permeia as tradições de vários povos. Por exemplo, no Egito Antigo, as tranças estavam associadas a posturas de afirmação de poder e destaque social, principalmente entre sacerdotisas, esposas e parentes de figuras importantes.
Cada povo possui sua própria técnica, que é passada de geração em geração, com o objetivo de manter o legado vivo. Por exemplo, as Fulani, de Fula, têm como diferencial a coroa de tranças finas no topo da cabeça, enquanto as mulheres da tribo de Gana utilizam o método de começar com tranças finas e engrossar ao longo dos fios.
No Brasil, enquanto a cultura, religião e costumes foram demonizados e condenados pela elite branca, por conta da escravidão, a diáspora africana obrigou com que essas tribos abandonassem o contato com as suas raízes. Mas, as tranças mantiveram viva a herança de uma África para os seus descendentes dispersos pelo mundo.
A cultura de mulheres mais velhas trançando o cabelo de suas irmãs, filhas ou netas manifesta o sentimento de resistência da comunidade negra no Brasil, essa força que causa a união, resultando no sentimento de pertencimento.
A pedagoga, pesquisadora e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais da Universidade de Brasília, Layla Maryzandra, afirma que esse sentimento de pertencimento tem a ver com a sensação de “estar em casa”, tem a ver com proteção.
Porém, essa ideia não surge do nada, apesar de a ligação sempre existir, mesmo que desconhecida.
A ideia surge com o movimento de reafirmação identitária da mulher negra brasileira, que, quando se torna adulta e participa do movimento afro-brasileiro, entendendo os códigos de linguagem, compreende que estética é política, e com a trança não seria diferente. Ao entender todo esse processo de letramento racial, o sentimento de pertencimento é descoberto.
Com essa ideologia, o questionamento sobre apropriação cultural torna-se necessário, pois, enquanto para a comunidade branca, trança é um adereço, uma estética para estar na moda e acompanhar famosos, para os negros é história, legado e tradição.