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O rap e o funk como ferramentas

de resistência nas favelas brasileiras

Por Allan Pinheiro

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Reprodução: Guilherme Chagas

O rap e o funk desempenham um papel cultural fundamental na representatividade das periferias. Eles não só mostram a resistência dessas comunidades, mas também retratam as vivências e as lutas diárias pela sobrevivência. Como diz a letra “Favela vive coisas que só quem é [da] favela vive. Sonhos estão a quilômetros, a morte está a milímetros”, do cantor MC Hariel, a vida na comunidade é repleta de desafios intensos. É uma jornada de mão única, onde as pessoas enfrentam a proximidade constante da morte enquanto continuam a lutar pelos seus sonhos, que parecem distantes, mas sempre presentes.

Promover visibilidade para a favela denunciando as desigualdades, o descaso e o preconceito enfrentado, é uma ação fundamental para a sociedade. A marginalização imposta pela mídia e a violência policial são alguns dos temas mais abordados nas letras de rap e funk. Como o rapper Funkero expressa em Favela Vive 2: “Somos a tribo perdida, trazida de longe. Somos filhos da lama, [o] Brasil que a mídia esconde. Nos empurram todo dia goela abaixo, ódio, medo, desespero e incentivo à violência. Dizem que somos bandidos, mas quem mata usa farda e exala despreparo e truculência”. Essas palavras denunciam a forma como pessoas de comunidade são estigmatizadas.

O hip-hop tem visibilidade mundial, mas, ao comparar o rap no Brasil com o mundo, é evidente a "síndrome de vira-lata", onde o que acontece fora do país recebe mais apoio do que o movimento local. Isso é refletido no verso de Cesar MC em Favela Vive 4, ao citar a morte de George Floyd, vítima de brutalidade policial nos EUA em 2020: "A cada 23 minutos morre um jovem negro, mais um negro drama, tipo João Pedro, mas por aqui a dor só gera comoção quando a manchete é americana". O verso destaca como, no Brasil, tragédias como a de João Pedro, também vítima de violência policial, só geram comoção quando ganham repercussão internacional, mostrando a indiferença social ao sofrimento do povo negro brasileiro, que só se torna visível quando está no discurso global.

Além disso, a desigualdade estrutural também é um tema recorrente, em que o estado favorece os ricos e poderosos, enquanto negligencia serviços essenciais para a população mais pobre, como educação, segurança e saúde.

O rapper DK47 denuncia em sua participação na música Favela Vive 5 que: “Tem um médico de plantão para 27 pacientes, e 27 assessores para apenas um deputado. É o país dentro do buraco, tu vê o professor humilhado dentro da sala de aula por um salário de esmola.” Essa reflexão traz à tona o abismo entre as condições de vida das classes sociais e a falta de investimento em áreas cruciais.

No entanto, o rap e o funk não se limitam apenas a protestos e denúncias, é um caminho de visibilidade e mudança para a periferia, tendo mais credibilidade que outros gêneros musicais na comunidade, pelo fato de que seus precursores são majoritariamente pretos e pobres, diferente do sertanejo, que no cenário atual, com muito esforço, conseguimos citar algum artista preto ou de raízes desfavorecidas. Dessa forma, além de denunciar as mazelas que acontecem, esses artistas também compartilham em suas letras suas próprias trajetórias de ascensão, servindo como fonte de motivação e inspiração para muitos jovens que, como eles, sonham com uma vida melhor. “Eu sou daqueles que acredita que pensar sobre a vitória vai fazer com que você vença. Pensa no baile da gaiola lotado, as piranhas jogando, os manos faturando, meu show anunciado, um poeta no topo, um favelado rico. Os humilhados serão exaltados!”, canta o rapper Choice em Favela Vive 3.

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